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Blog do Marcio Atalla

Obesidade infantil só aumenta; qual o papel dos pais nessa epidemia?

Marcio Atalla

17/10/2019 04h00

Crédito: iStock

Semana passada tive o prazer de participar do 39º Congresso Brasileiro de Pediatria. Um dos assuntos, como não poderia deixar de aparecer pela sua importância e pelas suas assustadores estatísticas, foi a obesidade infantil.

Nos últimos 12 anos, de 2006 a 2018, o crescimento da obesidade no Brasil foi de 68%, incluindo todas as idades. Entre as crianças, na faixa etária de cinco a nove anos, são 33% com sobrepeso e 15% com obesidade. Seguindo o gráfico, em seis anos teremos mais de 11 milhões de crianças obesas. É uma epidemia.

E não é apenas aqui, no Brasil, que os números são e continuam sendo assustadores. A OMS (Organização Mundial de Saúde) calcula que o percentual de crianças e adolescentes obesos aumentou oito vezes em quatro décadas e os com sobrepeso aumentou 10 vezes, em todo o mundo.

A obesidade reduz a expectativa de vida e essa pode ser a primeira geração desde que existimos que os filhos vão viver menos que os pais. Pensar que está na hora de mudar é até tardio. Já passou da hora, principalmente quando falamos das crianças.

Tudo começa nos primeiros dois anos de vida, com o aleitamento materno. Muitas mães acreditam que o leite de vaca, por ter mais proteína, é até melhor que o leite materno. Mas os bebês que não recebem o aleitamento não ingerem a proteína em sua dose perfeita, para seu crescimento e desenvolvimento –essa quantidade ideal de nutriente vem apenas da mãe.

A proteína, se consumida em excesso nos dois primeiros anos de vida, aumenta em 20% a chance de obesidade. O leite materno tem alto valor biológico, com baixa quantidade de proteína e protege contra esse fator agravante para a obesidade. Os leites disponíveis para os pequenos não conseguem reproduzir a riqueza desse alimento e fornecem mais proteínas, com menor valor biológico, acarretando seu consumo em maior quantidade que o necessário.

Seguindo a vida, após os dois anos, as crianças já brincam com celulares mais do que com brinquedos próprios de suas idades. Além disso, já ganham alimentos prontos, demasiadamente açucarados ou salgados, criando um paladar exagerado para ambos os lados: sal e açúcar.

Adiante, já maiores, têm seus próprios celulares, tablets, computadores. As telas ao alcance da mão e sem nenhuma supervisão ou limite de uso. No Brasil, 78% das crianças não atingem o mínimo de movimento necessário para serem consideradas ativas, segundo a OMS.

Nossos pequenos passam mais de cinco horas por dia em frente a algum tipo de tela, com movimento físico zero! E qual seria a média mundial ou a recomendação para esse tempo? No máximo, três horas por dia. Mais do que isso, na Coreia do Sul, por exemplo, a criança já é tratada com distúrbio e vício.

Mas qual seria a recomendação de movimento diário para uma criança ser considerada minimamente saudável? Afinal, as ruas são perigosas, os apartamentos apertados, tudo muito mais difícil hoje em dia, não? NÃO! O mínimo recomendado é de uma hora apenas! Se eu brincasse durante só uma hora, na minha infância, eu tinha certeza que estava de castigo. Nem estamos falando de uma hora consecutiva. Então, sim, é claramente possível que uma criança consiga brincar com algum movimento durante uma hora dentro das 24 que compõem o dia.

Para mudar, do que precisamos? Educação e exemplo dos pais. Ajuda da escola para ensinar a importância de bons hábitos desde pequenos. Programas de incentivo ao movimento em grande escala.

Precisamos juntar as crianças do prédio para brincarem no playground, formar times de esportes nas escolas, quebrar o tempo sedentário com brincadeiras, que seja de pular corda, vivo ou morto, ou apenas colocar uma boa música e dançar com os filhos. Mães americanas fizeram isso nos Estados Unidos e hoje é um programa com reconhecimento internacional. Ninguém fez doutorado para criar isso, apenas estimularam brincadeiras com movimentos durante 45 minutos antes das aulas começarem.

A mudança tem que acontecer dentro de cada um, de cada família, e ir se espalhando e "contaminando" os demais. Deixar para começar amanhã, para resolver depois, vai tornar as coisas bem mais difíceis. A hora é já!

Até!

Sobre o autor

Marcio Atalla é professor de educação física, com pós-graduação em nutrição pela USP (Universidade de São Paulo). Depois de muitos anos como preparador físico de atletas de alto rendimento, passou a desenvolver uma série de iniciativas na mídia para incentivar a população a levar uma vida mais saudável. É autor de três livros, entre eles, “Sua Vida em Movimento” (ed. Paralela), com mais de 50 mil cópias vendidas.

Sobre o blog

Dicas simples e muito eficazes para você ajustar seu estilo de vida aos poucos, começando a se movimentar mais e a fazer melhores escolhas alimentares. Detalhe fundamental: todas baseadas em estudos, sem espaço para mitos e modismos que sempre surgem quando o assunto é saúde e bem-estar.

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